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O “Ano Henfil”

28 jan
Ivan Cosenza de Souza

Esta decretado: 2008 será o Ano Henfil. A morte do grande cartunista brasileiro (1944- 1988) fez 20 anos no dia 4 e o volume de homenagens está à sua altura. Seu filho, Ivan Cosenza de Souza, prepara uma antologia de charges e planeja exposições pelo Brasil. O jovem cartunista Márcio Malta, que começou a desenhar inspirado nele, se ocupa de outra publicação: uma biografia, que terá como foco principal a atuação política do criador da Graúna, dos Fradins e do Ubaldo, o Paranóico.Outro livro, Balaio Mineiro: Memória de Uma Família Brasileira, este de Wanda Figueiredo, irmã do homenageado, conta a história do fantástico clã, passando por seus três filhos ilustres: Henfil, o sociólogo Betinho e o músico Chico Mário. O lançamento deve ser nos próximos meses. Sobre o trio, também sairá, em abril, o DVD de Três Irmãos de Sangue (Biscoito Fino), o premiado documentário de Ângela Patrícia Reiniger que trata da luta deles por justiça social e também contra a aids (contraída pelos três, hemofílicos, em transfusões de sangue).

Desde 1992 guardião do acervo do pai, Ivan, que tem 38 anos, é filho único de Henfil e trabalha como produtor cultural, guarda em casa, no Rio, mais de 15 mil originais. Desses arquivos sairão as charges que irão compor a antologia, prevista para o meio do ano (a edição será da Nova Fronteira). Ele pretende ainda remontar a exposição de desenhos que percorreu os Centros Culturais Banco do Brasil do Rio, São Paulo e Brasília entre 2005 e 2006, com o nome de Henfil do Brasil.

O sucesso foi enorme, lembra Ivan. Agora, ele quer levar a todo o País o traço e o humor do pai, que tanto sucesso fizeram no Pasquim e nos principais jornais e revistas brasileiros, nas décadas de 60, 70 e 80. ””Nas exposições, vi gente que estava nascendo ou nem tinha nascido quando ele morreu. Um garoto de 14 anos apareceu com uma bolsa cheia de recortes que ele colecionava””, diz o filho de Henfil, que na terça esteve em São Paulo para o lançamento da revista Henfil, Filho do Brasil, editada pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

Márcio Malta, conhecido como Nico, foi um garoto como este de que Ivan fala. Em 1988, tinha apenas 6 anos, mas já virou fã dos personagens criados por Henfil. E aos 16 anos, um professor de desenho lhe disse que seu traço era semelhante ao do mestre.

Hoje, Nico se intitula ””estudioso e fã”” de Henfil, a quem considera ””pai de uma geração de cartunistas””. ””O traço dele é simples; o humor, refinado e popular; a mensagem, objetiva. Ele inventou uma forma de dizer tudo que queria, mesmo não podendo (por causa da ditadura militar)””, elogia o jovem, que é sociólogo.

Seu livro, Henfil, o Humor Subversivo – uma edição de bolso que será vendida a preço popular -, deve estar nas ruas em abril (a editora é a Expressão Popular). ””Quero levar o Henfil aos jovens, que não conseguiram acompanhar sua carreira.””

É curiosa a atualidade do discurso de Henfil. As tirinhas – que saíram durante anos no Estado, o último jornal a publicá-lo em vida – estão nas páginas de O Globo há cinco anos e as únicas correções feitas (por Ivan) são em nomes de instituições ou de moedas que não existem mais. Era Henfil visionário ou foi o Brasil que não mudou?

””Eu vejo algumas notícias e penso em charges que meu pai fez que cabem direitinho””, diverte-se Ivan, enquanto mostra, numa pasta, quadrinhos que tratam de corrupção, desigualdades sociais, febre amarela… ””Tem gente que vê publicado e manda e-mail elogiando, sem saber que ele morreu há 20 anos.

Transmissor – Estadão
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Publicado por em 28 janeiro, 2008 em Arte, Cultura, Entreterimento

 

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